domingo, 27 de maio de 2007

Anselm Kiefer



Desculpa minha loucura inicial,
o atropelo de minhas próprias pernas,
o apelo às minhas presas estraçalhadas.
Manda-me filmes ...
algo que me componha,
por que meus desejos já andam fardos,
e meu rosto molhado nao passa de chuva que invade a cidade.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

tempo

sonho, pensava o velho, é a realidade fantasiada, a realidade levada às últimas conseqüências. o narrador ainda não chegou, ainda está longe da porta daquele quarto, mas podemos adiantar que o velho está levando tudo às últimas conseqüências, como sempre levou, desde a juventude. e essa decrepitude das carnes, essa flacidez, esse modo escamado de pele, esses pelos que nascem no nariz e nos ouvidos, essa aparência toda meio repulsiva parace um sinal de mau trato imposto por ele mesmo ao longo de uma vida desregrada, vida de muitas noites insones, do consumo exagerado do álcool e do tabaco (e até mesmo de certas drogas).deitado na cama, examinando os contornos das rachaduras no teto, ele sabe que não foi uma fatalidade que o deixou assim, sabe que foi o que escolheu, conscientente para esse futuro que chegou. recorda-se das dificuldades do coleguinha judeu nas aulas de catecismo na escola católica e vê agora que o judeuzinho tinha razão sem saber, que o purgatório é aqui. o menino que desejava levar para casa as estampas de um cristo louro e os pais não deixavam. não consegue quase fechar os olhos, pálpebras secas, não tem lágrimas para chorar pelo menino que não compreendia os pais, que não compreendia porque negavam tanto o cristo. eles estavam certos, conclui, finalmente. prugatório e inferno são essa cama de ferro, essa agulha permanente em sua veia cansada, esse tubo inoportuno que invade sua traquéia, esses bips eletrônicos.tudo isso é a sua farsa e ele continua escrevendo essa história sobre o fundo branco, continua lembrando da escola e do uniforme cáqui. do padre Bufante, vermelho, sotaque italiano, mãos grossas e falar da salvação, do arrependimento no confessionário e do céu.mas ali não vê anjos nem santos nem nuvens nem deus. observa apenas um cruxifixo de madeira tosca na parede em frente. estava pensando em como buscar mais tempo. ali, deitado tem todo o tempo do mundo, mas sabe que é ilusão. precisa de mais tempo.a porta do quarto de abre mais uma vez.



texto e imagem retirados de: http://sobretudodelona.wordpress.com/tag/uisque/

sábado, 19 de maio de 2007


[Dongen - Le coquelicot]

lembra-me claude.